Há livros tão interessantes e inspiradores que dá gosto escrever uma resenha. Procuro registrar a impressão que tive sobre esses livros e também, compartilhar com amigos, presentear e recomendar a leitura. Então, por que não ampliar a divulgação dessas obras literárias? O universo da leitura e da escrita é um mundo de infinitas possibilidades. Notas da Biblioteca, além de resenhas, contém anotações, notícias e eventos literários. Aproveite e boa leitura!
segunda-feira, 27 de setembro de 2021
A Poesia de Viegas Fernandes da Costa: Poeta, Historiador, Professor e Escritor Catarinense
sexta-feira, 24 de setembro de 2021
As ilustrações botânicas de Marianne North e a narrativa poética de Jean Giono
O que a naturalista e artista botânica inglesa Marianne North e o escritor francês Jean Giono têm em comum?
Nesses dois livros belíssimos, cheios de esperança e leveza, leituras para o Dia da Árvore o Início da Primavera no Hemisfério Sul
No primeiro livro, com linguagem suave e poética, o escritor francês Jean Giono (30/03/1895 - 09/10/1970) nos conta a jornada de um senhor que semeia árvores num imenso deserto. Aos poucos, surge uma floresta.
Edição ilustrada, capa dura, da Editora 34, São Paulo, 2018
Assim
inicia a fábula O Homem que Plantava Árvores: "Para
que o caráter humano desvende qualidades realmente excepcionais, é
preciso ter a boa sorte de poder observá-lo em ação durante longos
anos. Se essa ação é despida de todo egoísmo, se o espírito que
a orienta é de uma generosidade sem igual, se é absolutamente certo
que ela não buscou recompensa nenhuma e que, além do mais, deixou
marcas visíveis neste mundo, então estamos, sem sombra de dúvida,
diante de um caráter inesquecível." (Jean Giono, p.
11). O original é de 1953.
Para celebrar a Primavera, lembrei do belíssimo livro As viagens ao Brasil de Marianne North, de Júlio Bandeira, 2012.
A obra reúne ilustrações da naturalista, artista e botânica inglesa Marianne North (24/10/1830 - 30/08/1890), no período em que residiu durante um ano no Brasil, de 1872 a 1873.
As ilustrações de Marianne North são belíssimas obras de arte e uma viagem no tempo, em que podemos apreciar a natureza de quase dois séculos atrás, numa época em que as espécies viviam num ambiente mais preservado, ainda mais exuberantes.
Preservamos a natureza na medida em que a conhecemos. Assim, podemos compreender que todas as espécies são interdependentes e têm função importante no mundo em que vivemos.
...
Esses dois livros, belos em sua estética e conteúdo, são livros para ler, apreciar e inspirar nesses tempos em que o meio ambiente pede socorro... e também, para presentear! Quem não gostaria de ganhar um livro desses?
Bom início de Primavera e boa leitura!
sexta-feira, 17 de setembro de 2021
Poesia no café da manhã: A Odisséia de Homero e o caminho de volta à Ítaca
A ilha de Ítaca localiza-se no noroeste da Grécia e faz parte de um grupo de ilhas situadas no Mar Jônico. Pertence à prefeitura de Cefalônia, a maior desse arquipélago.
A Odisséia é um grande clássico da literatura ocidental, atribuída a Homero e seus primeiros registros são do século VIII A.C., mas acredita-se que seja bem anterior a essa data, tendo sido passada de geração em geração através da tradição oral.
Narra, através de versos, a saga de Odisseu, também conhecido por Ulisses na versão latina, após o final da Guerra de Tróia, em seu retorno para casa. Odisseu almeja reencontrar a esposa, Penélope, e seu filho Telêmaco. No percurso, enfrenta as mais diversas dificuldades, desde a fúria até o apoio dos deuses da Mitologia Grega.
Esta obra está na minha "lista de próximos livros". A lista só aumenta! :-) Enquanto isso, tenho assistido vídeos e lido algumas resenhas sobre a obra.
Muitos séculos depois, o poeta grego Konstantínos Kaváfis aborda o tema do retorno para casa, "o caminho até Ítaca", uma metáfora à nossa odisseia pessoal, de forma distinta: aproveite o caminho, aprecie a paisagem, aprenda o que for possível, mantenha o objetivo (Ítaca) em mente, mas não apresse a caminhada.
Poesia e o café da manhã
Além do café, pão, frutas... considero que o café da manhã está completo quando temos ao alcance uma boa dose de poesia. Ler um jornal, assistir ao noticiário, acompanhar as notícias pela internet, ler uma poesia... são tantas as formas de começar bem o dia!
Sempre que consigo reservar um momento para um café da manhã em ritmo mais lento, com o tempo adequado para saborear a refeição, procuro ler um poema; busco inspiração num ritmo e leveza que só se encontra na poesia. De outra forma, os compromissos do mundo nos imprimem um ritmo acelerado demais.
A poesia me agrada, logo no café da manhã, porque assim já me conecto com a sensibilidade necessária para enfrentar a dura realidade que observamos ao nosso redor e, se não nos dermos conta, nos deixamos contaminar por um ritmo e valores que não são nossos.
Quando reflito sobre o café da manhã "ideal", considerando os nutrientes e a dignidade humana, fico a pensar nas pessoas que não têm acesso à primeira refeição do dia. Precisamos evoluir muito em termos de solidariedade e busca do melhor para todos.
Considero que, além do café e do pão, a poesia é também um "produto de primeira necessidade".
imagem ilustrativa da internet
Compartilho um poema a ser saboreado em cada palavra. Aprecie também os versos do grande poeta grego, Konstantínos Kaváfis. Boa pedida para o café da manhã!
Ítaca
Se partires um dia rumo a Ítaca,
Faz votos de que o caminho seja longo,
Repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
Nem o colérico Poseidon te intimidem;
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento, se sutil
Emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
Nem o bravio Poseidon hás de ver,
Se tu mesmo não os levares dentro da alma,
Se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais, com que prazer, com que alegria,
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
E belas mercancias adquirir:
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
E perfumes sensuais de toda a espécie,
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim,
Rico de quanto ganhaste no caminho,
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se as acha pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
E agora sabes o que significam Ítacas.
Tradução de José Paulo Paes
Ítaca, ilha grega localizada no Mar Jônico
segunda-feira, 13 de setembro de 2021
O Ponto de Mutação, Fritjof Capra: leitura e reflexões atuais
O Ponto de Mutação, do físico e escritor inglês, Fritjof Capra
Esse novo paradigma (que já não é tão novo) propõe uma visão interligada das áreas do conhecimento, considerando as artes, as ciências, bem como a sabedoria popular das várias culturas. Tudo está interligado e, desta forma, uma pequena interferência numa área da vida afeta outras tantas situações.
Um exemplo que ilustra esse tema foi o que presenciamos em janeiro de 2019: os desastres ambientais em Brumadinho - MG e anteriormente, em Mariana - MG. Ao explorar os minérios do solo, a não ser que todos os cuidados sejam tomados, há um grande risco de gerar degradação e impactos ambientais gravíssimos; não há como visar o lucro a qualquer preço sem colocar vidas em risco. Há que se considerar que fazemos parte de um todo, interligado. Assim é com a nossa saúde (mental, física, emocional, energética...) e também, com a nossa sociedade.
Ao observarmos as florestas, os rios ou os oceanos é mais fácil verificar essa inter-relação; nas cidades, há tanta desconexão, poluição, cenários artificiais e estresse nos ambientes de trabalho que nem sempre percebemos de imediato as consequências das nossas escolhas.
Numa obra anterior, O Tao da Física, original de 1975, o autor compara os conceitos e descobertas da física ocidental com a sabedoria das tradições orientais.
Ambos são livros valiosos e trazem reflexões atuais, considerando que ainda há muito o que se superar em relação às consequências desastrosas que a visão fragmentada e desconectada de mundo ainda tem gerado.
p.s.: há um filme homônimo, gravado em Saint Michel, na França, em que três personagens, um político frustrado, um professor de literatura e poeta e uma cientista da área da física, conversam e refletem sobre os temas abordados no livro.
Filme: O Ponto de Mutação, 1990
quarta-feira, 8 de setembro de 2021
A Literatura Fantástica de Bioy Casares
A Invenção de Morel, Adolfo Bioy Casares, Editora Azul, 2016 (original de 1940)
Desconcertante. A busca pela imortalidade, ainda que não admitida por muitos, permeia nossas buscas e anseios. Freud postulava a pulsão de morte, no entanto, de várias formas, observa-se a tentativa de driblar as leis do tempo, dos efeitos do tempo.
Na obra do escritor argentino Adolfo Bioy Casares, aclamada por ninguém menos do que Jorge Luís Borges, apresenta ainda outro anseio humano: o encontro genuíno com quem amamos, a arte do encontro, da entrega, de sermos compreendidos de forma incondicional e sublime.
Sem abordar diretamente esses temas, magistralmente são apresentados nas entrelinhas de cada página, como se a própria alma do escritor tivesse sido transportada para o papel e, dali, nos apresentasse os anseios mais profundos da alma humana, num cenário impensável.
Paralelo a esses temas, talvez sem se dar conta ou nem tivesse essa ambição, anteviu um pouco da nossa realidade dos tempos pandêmicos em que vivemos: a tentativa de reduzir distâncias por meio de equipamentos que hoje aproximam pessoas em reuniões online e lives bem povoadas. Na falta de abraços e contato presencial, rapidamente descobrimos os encontros remotos através das chamadas de vídeo, de voz e reuniões pelas telinhas dos computadores. Em dado momento, o autor afirma que “todos os aparelhos de superar ausências são, portanto, meios de alcance (antes de ter a fotografia ou o disco é preciso tirá-la ou gravá-lo).” (p. 84)
Através do contexto que o autor foi nos apresentado, ao longo da história nos traz reflexões intrigantes. Se as imagens de fotos e as gravações em vídeos encerram as lembranças que as pessoas têm sobre o que viveram até aquele momento, a nossa vida não seria algo assim também? Nossas reflexões e inferências sobre o mundo e sobre nós mesmos não estariam limitadas pela soma das vivências que tivemos até certo instante? Como pensar sobre o futuro, como pensar sobre o novo, se somos limitados pelas experiências pretéritas? Se cada um de nós traz uma bagagem consigo, cada um conteria a imagem de seus futuros possíveis, mas limitados, cada qual dentro da própria “bolha”. Nas palavras do autor através das reflexões do narrador “o fato de não podermos compreender nada fora do tempo e do espaço talvez sugira que nossa vida não é apreciavelmente distinta da sobrevivência a ser obtida com esse aparelho”. (p. 88).
Outra reflexão bem atual é a respeito da repetição das cenas em nosso cotidiano, a repetição da rotina, quase à exaustão. Até que ponto vivemos no piloto automático? Um dia após o outro, padrões de comportamentos esperados, compromissos e afazeres com hora marcada, sem tempo para pensar o sentido e a razão das coisas.
Em seu estilo da narrativa fantástica, chega a cogitar hipótese da coexistência de vários mundos e dimensões, citando Dante Alighieri e Emanuel Swedenborg, para dar sentido às suas percepções naquele universo de novos efeitos em que se encontra.
O personagem principal, durante a narrativa, apresenta saltos de lucidez sobre sua condição na ilha em que se passa a história: “a situação que vivo não é a que penso viver.” (p. 62). Poderíamos fazer um paralelo com o “Mito da Caverna de Platão”, ou seja, compreendemos o mundo como se fosse a projeção de sombras numa caverna, mas que na verdade, a realidade do mundo que nos cerca é totalmente distinta daquela que percebemos. Podemos ter esse insight constantemente, sempre que tivermos uma postura crítica e questionadora sobre nós mesmos e o mundo ao redor.
Essa obra, além do realismo fantástico, tem também um caráter de ficção científica, ao explorar a projeção de hologramas, que hoje já conhecemos, mas não à época em que foi escrita.
Poderia ainda discorrer sobre as temáticas da solidão e da solitude, que caminham de mãos dadas ao longo da narrativa.
Sem mais antecipações ou detalhes, este é um livro surpreendente, revela as soluções da trama aos poucos, através de cenários que são criados, desfeitos e novamente criados, até o ápice comovente e desconcertante. Daqueles livros que, ao ler novamente essas cento e onze páginas, teremos novos níveis de compreensão e o descortinar de outros aspectos da realidade.
Boa leitura!
p.s.: li este livro em cinco dias. Poderia ter lido mais rápido, mas não conseguiria lê-lo mais devagar.
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