segunda-feira, 27 de setembro de 2021

A Poesia de Viegas Fernandes da Costa: Poeta, Historiador, Professor e Escritor Catarinense

A poesia é uma arte e uma forma de ver, compreender e expressar nossa percepção sobre o mundo em que vivemos, as emoções que sentimos e uma lista infinita de possibilidades de expressão através de uma linguagem sensível e universal, que alcança pessoas de várias culturas e épocas.
Recentemente li dois livros preciosos de poesias e prosa; um deles mais voltado para os fatos do cotidiano, aproximando-se de um manifesto ou uma carta de denúncias das barbáries dos nossos tempos e o outro, a poesia pura e delicada, sutil e cheia de efemeridades, e ao mesmo tempo, permitindo reflexões profundas e conexões ao nível do autoconhecimento. Esses dois livros foram escritos pelo Viegas Fernandes da Costa, poeta e professor.

Coliseu Tropical, Kotter Editorial, 2020.
A maior parte dos poemas contidos neste livro foram escritos nos anos da pandemia do COVID-19, ou seja, são bem recentes. Noutros, o poeta se refere a algumas guerras e revoltas que aconteceram no Brasil, nos últimos séculos, e fatos históricos que a História Oficial não contemplou, acrescidos dos paradoxos e contradições que constatamos todos os dias e, de tão corriqueiros, ainda que absurdos, têm caído na banalização. 
Viegas faz uma espécie de denúncia das injustiças sociais, expõe a desigualdade social de forma crua, sem maquiagens. Alguns poemas são um "soco no estômago" ou um "chamado" para que não nos acostumemos com o que não pode se transformar em banalidade. Na página vinte e dois, nos apresenta o que é o tal "Coliseu Tropical". O coliseu, em Roma, foi um anfiteatro e um grande espaço para batalhas, das mais variadas. A palavra tropical logo nos remete a trópicos, o país tropical. Para além desses primeiros significados, ao longo da obra do Viegas, podemos compreender o que ele quis abarcar nesse imenso coliseu.
Também há doses de leveza e esperança, principalmente nos poemas que evocam suas experiências com o mar e com as veredas do cotidiano.
Ao ler o "Coliseu Tropical" pude observar o predomínio dos sentimentos de espanto e alerta em relação ao mundo em que vivemos. Anotei alguns sinônimos para a obra, entre os quais, poderia se chamar "Enciclopédia da História Não Contada" ou mesmo "Dicionário de Barbáries e Absurdos dos Nossos Tempos". Recomendo!

Sob a Sombra da Tabacaria, Editora Liquidificador, 2015
Nesta obra, o autor nos presenteia com uma verdadeira dança das palavras, como se fossem notas musicais flutuantes, a brincarem com a partitura. Sutilezas voláteis, reminiscências de memórias, delicadezas em todas as páginas, a linguagem da alma em elevada expressão.
Envolver-se em tais palavras, tão intangíveis quanto o vento das asas dos pássaros a tocarem as nuvens nos dias de arco-íris, é como aproximar-se da "essência" daquilo que imaginamos que seja a alma, ou então, como aquela sensação que fica após um sonho, em que nos esforçamos para lembrar nas primeiras horas do dia e o sonho insiste em escapar. Na tentativa de descrever a sensação que as palavras desse livro tão doce nos evoca, me dou conta de que é necessário saborear cada palavra e acessar as conexões que cada um de nós fazemos, a partir nos nossos repertórios pessoais.
Se fosse sintetizar em uma palavra ou frase, para resumir o que esse livro me transmite, poderia dizer: Sabedoria em cápsulas poéticas ou algo equivalente. A cada frase, máxima, verso ou pensata, a reflexão: Quem é esse poeta com todo esse arcabouço de sabedoria? Por onde esteve a andar nesses caminhos tropicais e subtropicais, que construiu tantos aprendizados e acumulou tanta bagagem acerca da vida, transformando-a em poesia?
Na página quarenta e sete, um dos trechos a que me refiro: "Vem cá e me traz uma palavra embalada em flores."
O livro é todo poesia, no mais fidedigno significado que podemos dar à nobre palavra. Aproximadamente na quinta parte, a caminho do encerramento do livro, o autor nos brinda com  "Breve Romance de Ornitorrinco". Quem seria o ornitorrinco? Essa alma que voa, tão leve que é, diante das durezas do mundo dos homens. 
O livro faz referência a um dos mais conhecidos poemas de Fernando Pessoa, através do heterônimo Álvaro de Campos, Tabacaria. É deste poema os versos:
"Não sou nada. 
 Nunca serei nada. 
 Não posso querer ser nada. 
 À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Cabe destacar que "Sob a Sombra  da Tabacaria" recebeu o Prêmio Catarinense de Literatura em 2014. Premiação merecida! 
No momento, está fora de catálogo, podendo ser encontrado na Estante Virtual. Torcemos para que publiquem uma próxima edição em breve!
Considero ainda que tem um aspecto terapêutico, no sentido em que remete ao nosso autoconhecimento, pois nos traz várias reflexões sobre o que sentimos, pensamos e como nos posicionamos na sociedade em que vivemos.
Livro inspirador, cheio de sutilezas, sensibilidade e sabedoria. Recomendo!

Viegas é poeta, professor, historiador e escritor. Nasceu em Blumenau e atualmente reside em Florianópolis, em Santa Catarina, Sul do Brasil. É casado com Fernanda, sua musa que lhe inspira na caminhada e em seus escritos.

p.s.: ao longo das palavras-versos-poemas-prosas desses dois livros, percebi a influência e/ou semelhança no estilo de Mário Quintana, Fernando Pessoa (claro!), Manoel de Barros, Sartre, Calvino e Saramago. 

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