Italo Calvino nasceu em Santiago de las Vegas, próximo a Havana - Cuba, em 15 de outubro de 1923. Os pais, cientistas italianos, estavam numa viagem de trabalho e ficaram no local para o nascimento do filho. Viveu a maior parte de sua vida na Itália, exceto esse breve período em Cuba e também, treze anos em Paris. Em 1964 casou-se com a tradutora argentina Esther Judith Singer e tiveram uma filha, Giovanna. Calvino faleceu em Siena - Itália, em 19 de setembro de 1985.
Formado em Letras, participou da resistência ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Após esse período, trabalhou como consultor literário na Editora Einaudi, em Turim.
Em sua escrita, predomina o gênero da Literatura Fantástica, com vários elementos que desafiam a nossa noção de realidade e, ao mesmo tempo, permitem o distanciamento necessário para visualizarmos o mundo sob outra perspectiva.
Participou do grupo literário OuLiPo, formado por escritores e matemáticos, fundado em 1960, na França. A nomenclatura vem do acrônimo de Ouvrois de littérature potencielle, que quer dizer algo equivalente à "ateliê de literatura potencial".
Calvino é uma figura central na literatura do século XX e sua obra é riquíssima em descrições de mundos imaginários, realidades surpreendentes, paradoxos, metáforas às diferentes sociedades humanas, frases diretas ou mais elaboras, instigantes, tudo isso numa linguagem que transita entre a fábula e a poesia.
Desde a primeira leitura que fiz de um livro do Calvino, gostei bastante e sempre estou de olho no próximo livro dele que não li ainda... Marcovaldo, por exemplo, encontrei num sebo em Florianópolis. É aquele tipo de leitura que promove alguma transformação interior. Sempre mudamos algo, em nós mesmos ou na forma como vemos o mundo, após a leitura de algum livro do Calvino. Podemos dizer que toda leitura gera alguma mudança, isso é certo. No entanto, Calvino, em sua literatura fantástica, coloca nossos paradigmas em suspenso, em outra perspectiva.
A seguir, cito algumas de suas obras que mais gostei de ler. Procuro não antecipar muitos detalhes, para que os leitores façam suas descobertas e tenham suas próprias impressões a partir de suas experiências e leituras anteriores. Adianto que, para ler Calvino, é preciso parar o que se está fazendo, dedicar-se àquela leitura e saborear as palavras, ler as frases novamente, imaginar os cenários com a riqueza de detalhes que ele oferece... e, aproveitar para repensar o mundo em que vivemos.
Vale citar que todos os livros que li ou estou lendo desse autor foram publicados pela Editora Companhia das Letras.
Na década de 50, escreveu a trilogia Os Nossos Antepassados: O Visconde Partido ao Meio (1952), O Barão nas Árvores (1957) e O Cavaleiro Inexistente (1959). Os livros não têm relação entre si, a não ser por se passarem em cenários medievais, na época dos cavaleiros de armaduras, castelos e tudo mais.
O Visconde Partido ao Meio, Il visconte dimezzato, publicado na Itália em 1952. Narra a história do Visconde Medardo di Terralba, partido ao meio numa batalha, por uma bala de canhão. Regatado pelos médicos, sobreviveu e ficou pairando pelos reinos da região com suas duas metades, uma boa e a outra, má. Podemos considerar uma metáfora para os nossos aspectos "luz" e "sombra", como diria Carl Gustav Jung, ou então, uma forma de compreender algumas características do que conhecemos como transtorno bipolar, devido aos comportamentos extremos do personagem principal, Medardo. Ao longo da narrativa, o autor nos alerta sobre a necessidade de integração dos vários aspectos da nossa psique.
O Barão nas Árvores, I barone rampante, publicado na Itália em 1957. Nesta obra, conta a história do garoto Cosme, que decide viver no alto das árvores após um desentendimento com seu pai. Ao longo do livro, o autor descreve as peripécias, angústias e aventuras do morador das copas das árvores e a interação com os moradores da terra firme, seus vizinhos. Uma das interpretações possíveis é pensarmos sobre os mundos paralelos que criamos quando o contexto em que vivemos fica por demais pesado e difícil de enfrentar. Aqueles mundos imaginários que nos salvam tantas vezes.
O Cavaleiro Inexistente, Il cavaliere inesistente, publicado na Itália em 1959. A narrativa apresenta as aventuras de Agilulfo, cavaleiro de armadura alva e reluzente, porém vazia. Este cavaleiro, de comportamento exemplar, soldado dedicado, obsessivo no cumprimento das regras e tarefas apresentadas, desajeitado para expressar emoções, na verdade, não existe. Na trama, podemos encontrar também uma mulher guerreira, o rei Carlos Magno, um escudeiro de comportamentos estranhos, a freira que conta a história, entre outros personagens. Esta narrativa permite várias reflexões, na medida em que descreve os personagens e seus comportamentos.
As Cidades Invisíveis, Le città invisibili, publicado na Itália em 1972. É considerado a Magnun Opus do escritor Italo Calvino. Através de diálogos entre o viajante Marco Polo e o imperador Kublai Kan, descreve com maestria, de forma breve e poética, uma série de cidades, todas com nomes de mulheres. Através dessas descrições, criamos um mundo de cidades fantásticas, imaginamos situações ideais e até utópicas. A leitura desse livro é um excelente exercício para estudantes de Arquitetura e todos aqueles que gostam de pensar sobre novos mundos possíveis.
Porque ler os Clássicos, Perché leggere i classici, publicado na Itália em 1990. Neste ensaio, Calvino reflete sobre o que considera ser um livro clássico e nos conta sobre os clássicos que leu durante sua trajetória de leituras, quais foram os seus livros de formação, a importância desse tipo de leitura e, sobre os clássicos que talvez nunca cheguemos a ler, afinal, há tantos clássicos da literatura, nos quase duzentos países existentes.
No início do livro, após discorrer sobre os vários motivos pelos quais considera importante a leitura dos clássicos, Calvino afirma: " A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos." Mas claro, o conteúdo do livro vai bem além.
Cada um de nós já leu alguns dos clássicos da literatura mundial ou ainda vai lê-los, porém, não é possível que consigamos ler todos os clássicos de todas as épocas e países. No entanto, mesmo assim, com essa lista interminável de livros para ler numa vida, a leitura dos clássicos é essencial. Cabe a cada um construir sua lista personalizada.
Livros de Italo Calvino / leituras em andamento:
Marcovaldo, Marcovaldo ovvero Le stagioni in città, publicado na Itália em 1960. Através de vinte contos independentes entre si, a respeito de Marcovaldo, um trabalhador e sua relação com a natureza, ou o que restou dela nas cidades.
Se um viajante numa noite de inverno, Se una notte d'inverno un viaggiatore, publicado na Itália em 1979. Nesta obra, considerada um hiper-romance, o narrador interage com o leitor de forma que consegue nos colocar dentro da narrativa e nos sentimos um personagem ativo do livro. A literatura dentro da literatura. Em alguns momentos, desconcertante...
Esperando para ser lido:
Fábulas Italianas, Fiabe Italiane, publicado na Itália em 1957. A Editora Einaudi encomendou ao célebre escritor que escrevesse uma coletânea de fábulas presentes em toda as regiões da Itália, que pudesse se equiparar às francesas e alemãs de Perrault e dos irmãos Grimm. Na obra, para todas as idades, Calvino recria cenários antigos, provenientes da tradição oral, mesclado a uma visão contemporânea.
Outras obras do autor
Ficção:
A trilha dos ninhos de aranha, 1947.
A especulação imobiliária, 1957.
O dia de um escrutinador, 1963.
As cosmicômicas, 1963.
O castelo dos destinos cruzados, 1969.
Os amores difíceis, 1970.
Palomar, 1983.
Sob o sol-jaguar. 1988.
O caminho de San Giovanni, 1990.
Perde quem fica zangado primeiro (infantil), 1988.
Um general na biblioteca, 1993.
Ensaios:
Una pietra sopra. Discorsi di letteratura e società, tradução livre: Uma pedra acima: Discursos de literatura e sociedade, 1980.
Seis propostas para o próximo milênio, Lezioni americane. Sei proposte per il prossimo millenio, 1985.
Um otimista na América, 1959 - 1960.
Obs.: ao pesquisar sobre Calvino, observamos que algumas de suas obras ainda não foram traduzidas no Brasil.
Em julho deste ano foi inaugurada uma sala dedicada à Italo Calvino, na Biblioteca Nacional de Roma, na Itália, conforme a reportagem:
Calvino, um escritor instigante, lúcido e imaginativo deixou uma vasta obra como legado; leitura própria para os nossos tempos!
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