domingo, 31 de outubro de 2021

Hábitos de leitura e alguns livros para ler no feriado

Bons livros para ler não faltam, não é mesmo?

Uma das angústias dos apreciadores de um bom livro é ter sempre mais livros para serem lidos do que tempo hábil para lê-los. Quantas vidas precisaríamos para ler todos os livros que consideramos interessantes, todos os livros que nos recomendam, ou ainda... todos os clássicos da literatura de todos os países? Perguntas sem respostas... Ainda não encontrei uma equação que resolva o dilema dos livros para ler versus tempo disponível para leitura. Por enquanto, o jeito é estabelecer prioridades dentro das prioridades! 

Gosto de ler vários livros ao mesmo tempo. Tenho sempre por perto alguns livros que vou lendo simultaneamente. De tempos em tempos reordeno as leituras prioritárias. Daquela lista de livros que estão com algum marcador identificando a página onde parei, reavalio os que têm mais a ver com o momento que estou vivendo.

Dos livros que estou a ler neste momento, compartilho esses quatro, na ordem em que iniciei a leitura:


Se um viajante numa noite de inverno. Italo Calvino, Companhia das Letras.

Adoro os livros do italiano Italo Calvino. O primeiro livro dele que li foi O barão nas árvores. depois li O visconde partido ao meio, O cavaleiro inexistente, Por que ler os clássicos... e agora, Se um viajante numa noite de inverno. Calvino nos coloca diante de temas existenciais e cenários surreais, com a habilidade de nos provocar, trazendo novos pontos de vista para problemas antigos. É o exercício de ver o mundo sob outra ótica.

Link da editora: https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11045

Nós. Coleção Narrativas da Revolução. Ievguêni Zamiátin, Editora 34.

Outro dia, numa promoção da Editora 34, comprei alguns livros de escritores russos que foram bem recomendados, como por exemplo O Mestre e Margarida, de Mikhail Bulgákov e A morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstói. No site da editora, entre os livros recomendados, achei interessante também a obra Nós, de Ievguêni Zamiátin, por se tratar de um romance distópico de um escritor que influenciou Aldous Huxley, George Orwell e Kurt Vonnegut, entre outros.

Link da editora: http://editora34.com.br/detalhe.asp?id=976&busca=

A ilha de Arturo. Elsa Morante, Editora Carambaia.

Escrito em forma de fábula, A Ilha de Arturo, da escritora italiana Elsa Morante, foi bem recomendado pelos temas que aborda, como a solidão e a misoginia e pelo esmero com que foi escrito, entre o realismo e a fábula. A edição da Editora Carambaia é linda, em azul claro e dourado, fazendo referência ao mar do sul da Itália, na ilha onde vivia Arturo e o dourado dos cabelos de alguns personagens importantes.

Link da editora: https://carambaia.com.br/a-ilha-de-arturo

Encaixotando minha biblioteca. Alberto Manguel, Companhia das Letras.

As narrativas que se passam em livrarias ou bibliotecas exercem uma dose de fascínio: mil descobertas e insights podem acontecer num ambiente rodeado por livros. Alberto Manguel é um célebre escritor argentino e, apreciar um pouco das vivências  em suas bibliotecas pessoais por onde viveu, em que cita alguns dos livros que fazem parte e suas reflexões enquanto embala sua biblioteca, é algo bem especial. 

Invertendo um pouco a ordem que estava a ler esses livros maravilhosos, A ilha de Arturo me chamou um dia desses, na semana passada. Talvez, pela linguagem utilizada, em tom de poesia... Às vezes, tudo o que precisamos é de poesia, escrita ou vivenciada...

Link da editora: https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=14504

Assim que concluir as leituras, registrarei as impressões sobre esses livros! 📝📚✨

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Cruz e Sousa, expoente do simbolismo: 160 anos do nascimento do poeta

João da Cruz e Sousa (24 de Novembro de 1861, Nossa Senhora do Desterro / Florianópolis - SC- 19 de Março de 1898, Curral Novo / Antônio Carlos - MG), poeta, jornalista e abolicionista brasileiro.

Há 160 anos nascia em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis - SC, o mais importante poeta do simbolismo brasileiro, João da Cruz e Sousa. Filho dos escravos alforriados, Guilherme e Carolina Eva da Conceição, foi criado pela família à qual os pais tinham sido escravos, o marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa, Clara Angélica Fagundes de Sousa. O nome de batismo, João da Cruz, deve-se ao nome do santo do dia, São João da Cruz, e o sobrenome Sousa, da família do marechal.

Sob a proteção da família de criação, estudou no Liceu Provincial Catarinense e teve acesso ao estudo de latim, grego, francês, matemática, ciências naturais, entre outras áreas do conhecimento. Logo cedo destacou-se nos estudos da literatura e poesia. Há histórias na Ilha de Santa Catarina, dos moradores contemporâneos a ele, contando que o jovem poeta declamava seus poemas para o vento, na região da Alfândega, próximo ao mar, e para as ondas, na beira da praia de Santo Antônio de Lisboa. Já imaginou que delícia deveria ser encontrar o jovem Cruz e Sousa a recitar seus versos ao sabor dos ventos?!

Em Desterro, em parceria com Virgílio Várzea e Santos Lostada, criou o Jornal Colombo e também, publicou no jornal abolicionista Tribuna Popular e no jornal O Moleque. Sofreu o preconceito racial de várias formas, inclusive foi cogitado e impedido de ser Procurador em Laguna - SC. Expressou suas angústias através de seus poemas abolicionistas.  Se hoje, infelizmente,  ainda presenciamos o preconceito e a discriminação em várias situações cotidianas na sociedade em que vivemos, podemos imaginar o quanto deveria ser mais sofrido e intenso lidar com o preconceito ao povo negro no período exato em que ocorreu a Abolição da Escravatura no Brasil, em 1888.

Os catarinenses Horário Carvalho, Virgílio Várzea e Cruz e Sousa, no Rio de Janeiro em 1891. Imagem Revista Cruzeiro

Cruz e Sousa, em suas andanças pelo Brasil numa companhia de teatro, do Sul ao Nordeste, expressou sua arte e publicou poemas abolicionistas em diversos jornais.

Em 1890, muda-se para o Rio de Janeiro e o continua a vivenciar o preconceito em seu cotidiano. Publicou seus textos e poemas em alguns jornais, como o Folha Popular e também, trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 1893, casou-se com Gavita Rosa Gonçalves, com quem teve quatro filhos. A esposa apresentou problemas mentais após a perda de dois filhos, em decorrência de tuberculose.

Em 1898, também adoecido pela tuberculose, foi transferido para a cidade de Sítio - MG, em busca do clima aprazível, numa região de maior altitude, para onde muitas pessoas com problemas respiratórios procuravam, nas condições climáticas, uma forma de tratamento. Faleceu em Curral Novo (atualmente Antônio Carlos) - MG e seu corpo foi transportado até o Rio de Janeiro sem as honras que seriam merecidas.

Em vida, publicou Broqueis (1893), Missal (1893), e Tropos e Fantasias, poemas em prosa, em parceria com Virgílio Várzea (1895). Obras póstumas: Últimos Sonetos (1905), Evocações (1898), Faróis (1900), Outras Evocações (1961), O Livro Derradeiro (1961) e Dispersos (1961). Podemos observar que ele destacou-se como um mestre dos sonetos e em musicalidade, especialista em palavras diáfanas, voluptuosas e transcendentais.

A poesia simbolista carrega consigo uma aura de ser complexa demais, erudita em seu vocabulário sofisticado e um tanto inacessível à população em geral. No entanto, penso que, da mesma forma que para os demais gêneros poéticos, é necessário saborear as palavras e entregar-se ao poema e, permitir-se a descoberta de palavras e sensações talvez pouco habituais. Além do mais, a poesia é para todos!

A minha relação com Cruz e Sousa vem da época do Ensino Médio, quando fizemos uma pesquisa sobre os períodos e gêneros literários nas aulas de Língua Portuguesa, na antiga Escola Técnica Federal de Santa Catarina. A equipe à qual fazia parte apresentou um seminário sobre o Simbolismo e então, o contato mais próximo com o poeta e sua obra. Após alguns anos, ganhei um livro de presente com seus poemas, depois ganhei outro livro... em seguida, encontrei um livro mais antigo num sebo em Florianópolis... e agora, com toda a obra disponível na internet, fica bem mais simples o contato com seus poemas e forma de pensar. Mesmo assim, não resisto a algum exemplar físico nas livrarias e sebos da cidade!

Algumas sugestões de leitura e alguns dos poemas que mais aprecio:

INEFÁVEL!

Nada há que me domine e que me vença

quando a minh’alma mudamente acorda...

Ela rebenta em flor, ela transborda

nos alvoroços da emoção imensa.


Sou como um Réu de celestial Sentença,

condenado do Amor, que se recorda

do Amor e sempre no Silêncio borda

d’estrelas todo o céu em que erra e pensa.


Claros, meus olhos tornam-se mais claros

e tudo vejo dos encantos raros

e de outras mais serenas madrugadas!


Todas as vozes que procuro e chamo

ouço-as dentro de mim, porque eu as amo

na minh’alma volteando arrebatadas!

(Últimos Sonetos, obra póstuma, 1905)


CRISTAIS

Mais claro e fino do que as finas pratas

O som da tua voz deliciava...

Na dolência velada das sonatas

Como um perfume a tudo perfumava.


Era um som feito luz, eram volatas

Em lânguida espiral que iluminava,

Brancas sonoridades de cascatas...

Tanta harmonia melancolizava.


Filtros sutis de melodias, de ondas

De cantos volutuosos como rondas

De silfos leves, sensuais, lascivos...


Como que anseios invisíveis, mudos,

Da brancura das sedas e veludos,

Das virgindades, dos pudores vivos.  

(Broquéis, 1893)


BONDADE

É a bondade que te faz formosa,

que a alma te diviniza e transfigura;

é a bondade, a rosa da ternura,

que te perfuma com perfume à rosa.


Teu ser angelical de luz bondosa,

verte em meu ser a mais sutil doçura,

uma celeste, límpida frescura,

um encanto, uma paz maravilhosa.


Eu afronto contigo os vampirismos,

os corruptos e mórbidos abismos

que em vão busquem tentar-me no Caminho.


Na suave, na doce claridade,

no consolo de amor dessa bondade

bebo a tu’alma como etéreo vinho.

(Últimos Sonetos, obra póstuma, 1905)


SIDERAÇÕES

Para as Estrelas de cristais gelados

As ânsias e os desejos vão subindo,

Galgando azuis e siderais noivados

De nuvens brancas a amplidão vestindo...


Num cortejo de cânticos alados

Os arcanjos, as cítaras ferindo,

Passam, das vestes nos troféus prateados,

As asas de ouro finamente abrindo...


Dos etéreos turíbulos de neve

Claro incenso aromal, límpido e leve,

Ondas nevoentas de Visões levanta...


E as ânsias e os desejos infinitos

Vão com os arcanjos formulando ritos

Da Eternidade que nos Astros canta...  

(Broquéis, 1893)


HUMILDADE SECRETA

Fico parado, em êxtase suspenso,

Às vezes, quando vou considerando

Na humildade simpática, no brando

Mistério simples do teu ser imenso.


Tudo o que aspiro, tudo quanto penso

D’estrelas que andam dentro em mim cantando,

Ah! tudo ao teu fenômeno vai dando

Um céu de azul mais carregado e denso.


De onde não sei tanta simplicidade,

Tanta secreta e límpida humildade

Vem ao teu ser como os encantos raros.


Nos teus olhos tu alma transparece...

E de tal sorte que o bom Deus parece

Viver sonhando nos teus olhos claros.

(Faróis, obra póstuma, 1900)


AS ESTRELAS

Lá, nas celestes regiões distantes,

No fundo melancólico da Esfera,

Nos caminhos da eterna Primavera

Do amor, eis as estrelas palpitantes.


Quantos mistérios andarão errantes,

Quantas almas em busca da Quimera,

Lá, das estrelas nessa paz austera

Soluçarão, nos altos céus radiantes.


Finas flores de pérolas e prata,

Das estrelas serenas se desata

Toda a caudal das ilusões insanas.


Quem sabe, pelos tempos esquecidos,

Se as estrelas não são os ais perdidos

Das primitivas legiões humanas?!

(Faróis, obra póstuma, 1900)


Fonte dos poemas: Domínio Público

 http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=51


Livros para apreciar a poesia de Cruz e Sousa e conhecer um pouco mais da sua história:

Negro. Zilma Gesser Nunes (org.), Caminho de Dentro Edições, 2019.

Link da editora: http://caminhodedentro.com.br/negro-cruz-e-sousa-2/


Cruz e Sousa, o poeta alforriado. Godofredo de Oliveira Neto. Editora Garamond, Rio de Janeiro: 2010.

Link da editora: https://www.garamond.com.br/?s=cruz+e+sousa


Documentários e filme:


1. Documentário sobre a confecção do mural Cisne Negro no Centro de Florianópolis pelo artista Rodrigo Rizo:

Link: https://www.youtube.com/watch?v=f5cLkflnZSI

2. Documentário da TV Brasil sobre o poeta Cruz e Sousa:

Link: https://www.youtube.com/watch?v=z72-Gf6ch4c

3. Filme: Cruz e Sousa - Poeta do Desterro, dirigido por Silvio Back, ano 2000, drama, biografia

Link: https://www.youtube.com/watch?v=H7qrUpL1HXo

Faço votos de boa leitura e apreço pela obra de Cruz e Sousa! 📚✨

domingo, 17 de outubro de 2021

Aqueles livros que marcaram a nossa infância e juventude... livros para reler, presentear e apreciar!

Eu devia ter uns 9 ou 10 anos quando li um trecho do clássico Vinte Mil Léguas Submarinas  num livro didático de Língua Portuguesa. A ilustração em preto e branco mostrava o submarino Náutilus e as maravilhas do fundo do mar. Através do gênio inventivo do Capitão Nemo, o célebre escritor francês Júlio Verne (1828 - 1905) nos presenteou com este clássico da literatura mundial com a publicação em 1870.


As vinte mil léguas são uma referência à distância percorrida pelo submarino ao longo dos oceanos e a aventura se passa enquanto governantes e cientistas procuram descobrir o que estaria causando os terríveis acidentes com embarcações ao redor do globo. Suspeitavam que fosse um ser marinho gigante, até que o cientista francês Aronnax e sua equipe encontram o Náutilus e uma amizade se desenvolve com o Capitão Nemo. Nesse encontro, algumas condições são colocadas pelo idealizador do Náutilus e a aventura segue...

É interessante lembrar que Júlio Verne traz o Capitão Nemo de volta na obra A Ilha Misteriosa, publicada em 1874.

Os clássicos de Júlio Verne são excelentes leituras para os jovens de todas as idades, apreciadores da ficção científica e de uma boa aventura.

Entre as obras mais conhecidas de Júlio Verne, podemos citar também Viagem ao Centro da Terra (1864), A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (1872) e O Raio Verde (1882).

Além de apreciar os seus livros, tenho me tornado colecionadora, digamos assim, pois não resisto a alguma edição perdida no tempo, de algum clássico verniano que encontro nos sebos e livrarias.

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Outro livro que descobri através de um trecho de leitura em livro didático quando estava na 2a série do Ensino Fundamental e que me encantou foi  O Menino do Dedo Verde  publicado em 1957, do grande escritor francês Maurice Druon (1918 - 2009).

Quando o autor nasceu, a Primeira Guerra Mundial estava próxima do fim e, ao completar os seus vinte e um anos, presenciou o início da Segunda Guerra Mundial. Foi combatente até 1941 e depois, fez parte das Forças da Resistência e do serviço de informações França Livre, em Londres. Podemos imaginar que suas experiências no contexto das guerras tenha inspirado a escrever um livro que trata, de forma tão graciosa, a força do amor da esperança e os perigos de um mundo cuja ênfase seja o belicismo, ao descrever a fábrica de armamentos que é o centro econômico da cidade em que Tistu reside com a família. 

Nesta fábula, Tistu é um menino que nos coloca diante dos paradoxos e incoerências do mundo dos adultos e traz reflexões sobre questões éticas, desde o belicismo até as relacionadas ao meio ambiente. Aos poucos, Tistu descobre que tem um toque "mágico" e "verde", ou seja, transforma as coisas que toca e assim, enche de cores e esperanças os lugares por onde passa.

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Na lista dos livros infanto-juvenis, aproveito para prestigiar O Segredo do Sótão (2020) da querida amiga, professora de Educação Física e escritora catarinense, Gladys Rosa.

Uma história gostosa de ser lida, divertida, capítulos bem encadeados, com gostinho da infância. Evocam as lembranças de quando passávamos as férias na casa dos avós ou em algum sítio da família. A vida que acompanha os ritmos da natureza, o carinho dos avós, o cheirinho do bolo assando no forno e as brincadeiras ao ar livre com os primos. Nesse cenário acontece a trama, uma busca por algo misterioso que existe no sótão da casa da avó de Aderet, uma menina curiosa e cheia de vida.  Com suas ideias mirabolantes, coloca o primo em apuros. A narrativa se passa nos anos 60 e o contexto histórico  e político do Brasil daquela época está presente. 

Mas o que é que haveria de tão importante e especial no sótão da casa da avó?

As ilustrações ao longo do livro são da própria autora.

O Segredo do Sótão, Gladys Rosa. Florianópolis: Editora Insular, 2000.

Link da Editora: https://insular.com.br/produto/o-segredo-do-sotao/

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Esses são alguns dos livros que recomendo para crianças e jovens de todas as idades!

terça-feira, 12 de outubro de 2021

 Livros, Viagens e o Dia Nacional da Leitura

Nos passeios mais próximos ou nas viagens mais distantes, sempre que estou em outra cidade, procuro conhecer as livrarias, os sebos e as bibliotecas locais. Percebo que esse é um hábito comum entre aqueles que apreciam a leitura, os livros e os ambientes literários.

Numa viagem recente de férias, saindo de Florianópolis - Santa Catarina até Dourados - Mato Grosso do Sul, passando por Lages - SC, Cascavel - PR, Bonito - MS e retornando por Curitiba - PR, até chegar de volta a Florianópolis, passei por algumas livrarias e sebos (lojas de livros usados). Nesses locais, pude "garimpar" alguns livros desejados e outros, inesperados.

Existe uma "mágica" ao encontrar uma livraria nova e, nelas, livros aleatórios que, talvez, jamais adquiriria se não tivesse passado por aqueles locais.

Tenho várias histórias assim para contar, sobre os livros que vou encontrando pelo caminho, as sincronicidades, a satisfação ao parabenizar os livreiros, donos das livrarias e as histórias de persistência dos proprietários dos sebos. 

O hábito da leitura ainda é algo caro e um tanto raro no Brasil. É preciso incentivar! Penso que, para estimular o hábito da leitura, é importante presentear as crianças com livros adequados a cada idade e também, trocarmos ideias sobre os livros que estamos lendo... Afinal, ler amplia o nosso universo pessoal e a forma como compreendemos o mundo.

Compartilho alguns dos achados literários dessa viagem: 

Sebo Marechal, em Lages - SC:

1. Transparências da Eternidade. Rubem Alves. Versus Editora, SP: 2002. Crônicas poéticas sobre a espiritualidade e questionamentos existenciais do mestre Rubem Alves (1933 - 2014).

2. O Código das Águas. Lindolf Bell. Global Editora, SP: 1984. Poesias, no ápice do movimento Catequese Poética, em que foi líder, levando a poesia aonde as pessoas estavam, por exemplo, nas praças e chãos de fábrica. Tive a honra de assistir a uma palestra dele, numa ocasião em que o Grupo Teatral Boca de Siri interpretou uma peça sobre a paz, a partir de um de seus poemas. Lembro da força de suas palavras e do carisma ao contar suas histórias, olhando nos olhos das pessoas na plateia do auditório da antiga ETFSC (hoje, IFSC) em Florianópolis, na década de noventa. 

Nesta obra, encontramos sua famosa frase, contida no Poema do Andarilho: "menor do que meu sonho, não posso ser."

Imaginem a surpresa, a alegria e a emoção ao abrir o livro e constatar a dedicatória do próprio poeta, certamente escrita em algum lançamento do livro!


Mais informações sobre a vida e a obra do poeta Lindolf Bell (1938 - 1998), no site da Casa do Poeta - Timbó - SC: https://www.lindolfbell.com.br/

3. Melhores Poemas / Manoel Bandeira. Seleção de Francisco de Assis Barbosa. Global Editora. Poesias de um dos grandes integrantes da Semana de Arte Moderna de 1922, no Brasil.

É dele o poema "Vou-me embora pra Passárgada", publicado em 1930.

Livraria Companhia dos Livros, em Dourados - MS:

4. Encaixotando minha biblioteca. Alberto Manguel. Companhia das Letras, SP: 2021 (original de 2018). O célebre escritor argentino (1948 - ) apresenta reflexões sobre a importância dos livros e das bibliotecas em sua vida, enquanto encaixota sua biblioteca pessoal na França, a caminho do Canadá.

Vale destacar que a livraria Companhia dos Livros, no Centro de Dourados, é belíssima! A decoração temática sobre livros e clássicos da literatura, além de uma gama incrível de livros fantásticos!

Loja de conveniências na rodovia, próximo a Curitiba - PR:

5. Notas Sobre o Luto. Chimamanda Ngozi Adichie. Companhia das Letras, SP: 2021. Esta obra da escritora nigeriana (1977 - ) tem sido uma referência a respeito do luto vivenciado nesses tempos de pandemia da COVID-19. Há alguns meses o livro está na minha lista de prioridades... e eis que ele me encontrou durante uma viagem a caminho de casa, onde menos se espera - uma loja de conveniências para viajantes.

Em breve, escreverei um artigo sobre as livrarias, sebos e bibliotecas de Florianópolis - Santa Catarina!

Boa leitura! 

domingo, 3 de outubro de 2021

Feira do Livro de Porto Alegre de 2021 - Para ler um  novo mundo

Para quem aprecia um bom livro, gosta de ficar por dentro das novidades literárias, assistir aos lançamentos de livros e entrevistas com os autores, interagir com escritores e tudo o que diz respeito ao universo literário, as feiras do livro são eventos imperdíveis.

Em sua 67a edição, a Feira do Livro de Porto Alegre acontecerá no período de 29 de outubro a 15 de novembro, no formato hibrido e com acesso gratuito aos eventos previstos na programação. O tema vem ao encontro às necessidades do mundo pós-pandêmico: "Para ler um  novo mundo". 

A Feira do Livro de Porto Alegre é o paraíso dos bibliófilos no Sul do Brasil. Após quase dois anos desde a última edição presencial, em novembro de 2019, com a pausa imposta pela pandemia da CODIV-19, eis que esta fantástica feira do livro retorna às ruas, especificamente, à Praça da Alfândega e arredores, na capital gaúcha.

Durante os períodos mais agressivos e preocupantes da pandemia, as várias formas de expressão artística nos ajudaram a atravessar as turbulências que tanto nos afetaram e ainda afetam: preocupação com os familiares e amigos, perda de pessoas próximas, risco de contágio e transmissão do vírus, desemprego, transtornos mentais desencadeados pelas incertezas do isolamento social e contexto de instabilidade política, entre tantos fatores. 

Em Florianópolis, observei que muitas pessoas se engajaram em grupos de literatura, leitura compartilhada e outras iniciativas voltadas ao incentivo da leitura. Através das redes sociais, observei que este é um fenômeno que tem acontecido em várias cidades no Brasil e em outros países. Quantas pessoas passaram a ler mais, ou então, colocaram as leituras em dia? Livros que havíamos lido há alguns anos, pudemos relê-los com um outro olhar. Observei um "efeito terapêutico" através das leituras que temos feito nesses meses pandêmicos: uma forma de ultrapassar as barreiras do isolamento social, e também, elaborar nossas angustias e incertezas.

O patrono da 67a edição da feira é o poeta, jornalista e professor, Fabrício Carpinejar. Gaúcho de Caxias do Sul, é filho dos poetas Maria Carpi e Carlos Nejar. Ao longo de sua trajetória literária recebeu vários prêmios, entre eles, o Prêmio Olavo Billac, em 2003 com o livro Biografia de uma Árvore.
Fabrício Carpinejar e Jeferson Tenório, 
patronos da Feira do Livro de Porto Alegre em 2021 e 2020, respectivamente 
(imagem: perfil do Instagram da Feira do Livro)

Estive nesta grandiosa Feira do Livro há alguns anos, antes da pandemia, e foi uma experiência incrível! A feira nos surpreende por uma série de fatores: ocupa o espaço de uma praça arborizada e também, várias quadras ao redor, com vários estandes de livrarias, sebos, editoras, palco para apresentações musicais, palestras, lançamentos de livros e tantas outras atrações... e, claro, o encontro de leitores ávidos por bons livros. É uma verdadeira festa do livro!

O logotipo da feira faz referência ao Jacarandá em flor

Resenhas de livros e afins

Literatura Infantojuvenil e a Literatura de Aconchego para todas as idades

 O Segredo do Sótão - Gladys Rosa   Entre os livros infantojuvenis publicados nos últimos anos, destaque para " O Segredo do Sótão ...