domingo, 16 de janeiro de 2022

Narrativa poética, ficção cientifica, romance histórico ou uma história que se passa numa livraria em Paris? Você escolhe!

Selecionei quatro livros que me proporcionaram uma leitura bastante agradável, suscitando reflexões ou mesmo, o simples prazer da boa leitura.


A caderneta vermelha, Antoine Laurain, 2014.

O que me atraiu neste livro foi o cenário parisiense e o protagonista se tratar de um livreiro, naquelas livrarias pequenas e seus livros raros, em Paris. Após ter lido a obra "Minha vida, de Tchekhov" estava precisando ler algo bem diferente enquanto processava a leitura anterior.

Nesta ficção francesa, o personagem principal, o livreiro Laurent Letellier, encontra uma bolsa feminina abandonada. Uma caderneta vermelha dentro da bolsa, com anotações difusas é a pista para localizar a dona do acessório perdido. Fragmentos de frases soltas nas páginas da caderneta e pensamentos ao acaso vão traçando características da personalidade de alguém que Laurent ainda não conhece, mas está motivado descobrir. Um trecho inusitado acontece quando ele encontra Patrick Mondiano, Prêmio Nobel de Literatura em 2014, num parque em Paris. A moça que ele procura tem um livro dele, autografado.

O autor também traz uma reflexão, quase na metade da obra, a respeito do livro de papel, se resistirá à maravilha tecnológica que é ter uma biblioteca inteira num aparelho eletrônico.

Entre livrarias, galerias de arte e cafés, as peças vão se encaixando. Impossível não se encantar.

A edição da imagem é de 2016, publicado com o selo da Alfaguara, 136 páginas.

O autor, Antoine Laurain, recebeu o Prêmio Laderneau Découvertes com o livro "O chapéu de Mitterrand", em 2012.


O perfume da folha de chá, Dinah Jefferies, 2015.

No Natal do ano passado, ganhei este livro da minha irmã. Adorei! 

A história é bem escrita, capítulos interligados com destreza, descrições belíssimas das paisagens do Ceilão - atual Sri Lanka e, em alguns momentos, apresenta os conflitos étnicos entre os povos tâmeis, cingaleses e os colonizadores, principalmente ingleses. 

Na década de 1920, a personagem principal parte da Escócia rumo ao Ceilão, recém-casada com um fazendeiro, produtor de chá. Neste novo mundo, as diferenças entre a aristocracia e os empregados da fazenda são bem marcadas e as iniciativas da personagem para proporcionar melhores condições de saúde e educação aos trabalhadores não são bem vistas pelos demais fazendeiros.

Sobre o passado da família, há um mistério a ser desvendado. A autora sabe muito bem manter a atenção do leitor enquanto, aos poucos, a trama vai sendo decifrada.

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=88195

Confiança, lealdade, compaixão, humanização das condições de trabalho e igualdade social estão nas entrelinhas da obra. Apaixonante!

A edição da imagem é de 2017, sob o selo da Editora Paralela e possui 432 páginas.


Flores para Algernon, Daniel Keyes, 1966.

Ficção científica de primeira grandeza, na genialidade do escritor norte-americano Daniel Keyes (09/08/1927 - 15/07/2014), venceu o Prêmio Nebula, inspirou o filme "Os dois mundos de Charlie" do diretor Ralph Nelson e também, um musical na Broadway.

Ganhei este livro de um de meus afilhados no Natal do ano passado. Acertou em cheio, pois adoro ler ficção científica. Imaginar novos mundos e tecnologias e também, a forma como poderemos lidar com possíveis mudanças, nos ajudam a repensar o mundo em que vivemos.

https://editoraaleph.com.br/produto/flores-para-algernon/

Nesta história, os protagonistas são Charlie e Algernon. Charlie apresenta dificuldades cognitivas e sofre diversos preconceitos e humilhações em seu ambiente de trabalho. Disposto a mudar de vida, aceita participar de um experimento cirúrgico que promete aumentar seu Q.I. e gera a expectativa de ter amigos de verdade e ser respeitado.

O preconceito com o diferente, seja por ter dificuldades cognitivas ou altas habilidades, é abordado na obra em várias situações, de forma comovente. O autor também descreve como seria uma pessoa com um elevado nível de consciência de si mesmo. Essa possibilidade apresenta dois lados: a autonomia e o domínio de si mesmo, bem como o isolamento, a solidão ao ser diferente.

A respeito de Algernon, sem spoilers. O interessante é descobrir as chaves de leitura desse livro  aos poucos. Nas entrelinhas, outras tantas reflexões sobre compaixão, respeito ao diferente e até que ponto temos consciência sobre nós mesmos.

A edição da imagem é da Editora Aleph, 2018, capa dura, 288 páginas.


A ilha de Arturo, Elsa Morante, 1957.

Este livro foi recomendado por um amigo, numa live sobre literatura, em junho do ano passado. Adquiri o livro e iniciei a lê-lo em novembro. Grata surpresa: daqueles livros em que somos capturados para ir até o final, praticamente sem pausas.

Obra magna da aclamada escritora italiana Elsa Morante (18/08/1912 - 25/11/1985), recebeu o Prêmio Strega, maior reconhecimento literário na Itália, em 1957.

https://carambaia.com.br/a-ilha-de-arturo

Arturo é um garoto que vive sua infância e adolescência na ilha de Procida, região de Nápoles, sul da Itália. A história se passa num cenário de praias paradisíacas, vilarejo medieval, pescadores e um porto movimentado. É narrada pelo próprio Arturo, já adulto, contando as memórias do tempo em que vivia na ilha. Aborda temas complexos de forma poética, em tom de fábula. 

Ao longo da narrativa ele conta suas descobertas, angústias, peripécias e principalmente, sua relação com o pai e com a própria ilha. Um garoto solitário, perdeu a mãe logo ao nascer, pai bastante ausente e distante afetivamente, criado pelo caseiro e educado pelos livros da biblioteca do casarão em que morava. 

Na obra, considerada um romance de formação, encontramos reflexões sobre a solidão do garoto, o narcisismo do pai, os amores proibidos, a misoginia, a homoafetividade e o movimento do vir a ser, das batalhas internas de Arturo para surgir no mundo na medida em que vai quebrando ilusões e formando sua própria personalidade.

Como pano de fundo histórico, o cenário que antecede a Segunda Guerra Mundial, de modo sutil, como se o mundo fora da ilha fosse montado por fragmentos oníricos distantes.

Recentemente, a Editora Carambaia publicou a obra numa edição especial, capa dura em papel dourado, 384 páginas, belíssima. Na minha compreensão, as cores da capa fazem referência ao mar de Procida e aos cabelos dourados e olhos azuis do pai de Arturo.

Em 1962, o diretor italiano Damiano Damiani, gravou um filme referenciado nesta obra. No Brasil, o nome do filme ficou como "A ilha dos amores proibidos". Por enquanto, localizei o filme original italiano somente com tradução em polonês. Mesmo sem domínio nesses idiomas, para quem já leu o livro, é bem fácil localizar as passagens da obra nas cenas do filme.


Sem mais spoilers, recomendo todos!

Boas leituras e reflexões! 📚🌻✨

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